A personagem Sandrinha, da novela Viver a Vida , está envolvida numa relação caracterizada como amor bandido
Vira-e-mexe o assunto está em alta nas manchetes dos jornais. Na novela Viver a Vida o autor Manoel Carlos coloca mais uma vez o dedo na ferida para falar de um assunto nada simples: o amor bandido. No folhetim, Sandrinha (Aparecida Petrowky), irmã da protagonista Helena (Taís Araújo), está às voltas com uma história de amor com o criminoso Benê (Marcello Melo). O romance conturbado teve direito a ameaças à família da namorada, grávida do bandido.
A diferença da ficção para a realidade é que a novela ou o filme termina, mas na vida real, a solução do problema é complicada. Muitas vezes, a própria mulher não admite a situação, sem perceber que, na verdade, trata-se de uma doença. Aliás, engana-se quem pensa que se apaixonar por criminosos é somente o que caracteriza o chamado amor bandido. O problema vai além.
Segundo a terapeuta sexual e urologista Sylvia Faria Marzano, trata-se de um relacionamento doentio, numa união destinada a muitas doses de sofrimento e dependência. "É aquele que causa na parceira (a maioria dos casos acontece com mulheres)uma dependência como uma droga. É a mulher violentada pelo companheiro e que, mesmo assim, submete-se, vitimiza-se, não tem forças para sair desse jogo, pois ela precisa dele. Envolve medo de rejeição, de não ter como sobreviver, de fazer parte do outro, de ser o que falta no outro", disse a especialista.
Um relacionamento desse tipo é silencioso, raramente apresentando "sintomas" no início, principalmente na fase de deslumbramento. "A mulher dificilmente consegue identificar esse problema sozinha, dependendo da fase em que está. Mesmo se for avisada por pessoas de fora, ela se nega a acreditar e continua navegando nessa canoa furada. Necessita desse mal como o ar que respira. Quando perceber, já está muito desestruturada e com a autoestima debilitada", afirmou.
O golpe mais duro, no entanto, e que deixa as mulheres na linha tênue entre desistir da relação ou permanecer nela, é o fato de esses homens se mostrarem bonzinhos em determinados momentos, alguns até fazendo o papel de provedor. Sylvia Marzano cita como exemplo quando a mulher de um alcoolista fala "quando ele não bebe é muito bom para mim".
Ajuda
Sair desse tipo de relação não é fácil, porém não impossível. O primeiro passo, e o mais importante, é a mulher querer sair. E o mais complicado: buscar motivação para seguir na ideia de que a relação não faz bem para ela.
E atenção, a terapeuta alerta que quem passa por isso pode reincidir no problema, ou seja, buscando na multidão aquele que repetirá a sua história, muitas vezes está relacionada à sua família de origem. "Uma relação como essa deixa sequelas, não só na pessoa que se coloca de cabeça, mas também na família, que também necessitará de tratamento", afirmou Sylvia.
Grupos de ajuda funcionam muito bem nesse caso. Com o mesmo preceito do grupo Alcoólicos Anônimos, o grupo Mada (Mulheres que Amam Demais Anônimas), tem o objetivo de orientar as mulheres a se livrarem de relacionamentos destrutivos. Segundo a entidade, a ajuda é oferecida a partir de uma experiência pessoal, sem dar conselhos ou fazer interpretações psicológicas. "Mesmo que não encontre ninguém nas mesmas condições, a mulher poderá se identificar com a forma com que muitas das participantes sentem os efeitos que a dependência de pessoas produz em suas vidas". A frequentadora do grupo não precisa falar nada nas reuniões e é identificada apenas pelo nome.
No Brasil, o Mada (www.grupomada.com.br) dispõe de sedes em 15 Estados. Somente em São Paulo capital, os espaços estão localizados no Centro, Guarulhos, Jardins e Sumaré. No exterior há reuniões em Portugal e na Venezuela.
Histórias na vida real
A vida real está cheia de exemplos de amor bandido levado às últimas consequências. No Brasil, um dos mais comentados à época foi o da cantora Simony, que em 2001 casou-se com o ex-presidiário Afro-X, com quem teve dois filhos. Quando se conheceram ele ainda estava preso no Carandiru.
Nos anos 1980, a jornalista Marisa Raja Gabaglia envolveu-se com o cirurgião plástico Hosmany Ramos, condenado a 21 anos de prisão por assalto e tráfico de drogas. Atualmente ele está foragido da justiça e em agosto de 2009 foi encontrado na Islândia.
Condenado a 147 anos de prisão, o psicopata Francisco de Assis Pereira, conhecido como Maníaco do Parque, recebeu várias cartas de amor de mulheres que queriam salvá-lo. Casou-se com uma delas.
Nos Estados Unidos, Evangeline Grant Redding, produtora de TV, escreveu ao preso James Briley, em 1984. Ele havia liderado a audaciosa fuga de seis condenados à morte e ela queria fazer um livro sobre a aventura. Cinco meses depois se casaram numa cela da prisão.
Em 2001 a alemã Dagmar Polzin viu um cartaz com a foto do norte-americano Bobby Lee Harris, que estava no corredor da morte, sentenciado por assassinato. Ela apaixonou-se pelo assassino, abandonou seu emprego em Hamburgo, na Alemanha, e se mudou para a Costa Leste dos Estados Unidos.
http://mulher.terra.com.br/interna/0,,OI40835-EI1377,00-Amor+bandido+causa+dependencia+diz+especialista.html
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